quarta-feira, 15 de agosto de 2007

democracia e moda no caos paulistano!

(A caminho da Brás)...

Muitas pessoas é pouco, perto do que já vi em estações de metrô onde podemos trocar de linha como a do Paraíso (onde eu entro) e a da Sé (onde eu faço a tal da baldeação), a estação do Brás consegue ganhar em tamanho e volume de gente que passa por ali.
Provavelmente dois motivos contribuam para isso, um é fato de que ali a conexão com os trens que ligam São Paulo ao seus arredores é gratuita.
O outro motivo é de que por ali temos acesso ao reduto mais fashion da hipersãopaulomegalópole: o Brás!

Enganados estavam os que achavam que encontrariam fashionisses maiores nas regiões em volta das ruas Oscar Freire e Bom Retiro.
Por esses lados veremos apenas aquele glamour ostentatório e às vezes impagável que já vimos nas revistas de fofocas e que sabemos não levar a grandes satisfações...

Fashion é o Brás e passando pela região podemos ver qual é a moda que vai pegar de verdade em outras lojas e na próxima (quase entrando) estação.
Não estou dizendo que lá acontece um movimento de moda de vanguarda. Nem que o Brás dita as trends.

O lance é que a região é altamente comercial, vive de vendas em quantitades e não mede esforços para que isso continue acontecendo.

Aquilo que saiu nas passarelas para o verão deste ano já estava no Braisão (como eu gosto de chamar) muito antes do material exposto pelas marcas das semanas de moda estarem seguindo para a mesa de corte.
Enquanto os empresários do luxo se preparavam para vender o mostruário, os do Brás colocavam nas suas vitrines de rua.

Isso é maravilhoso do ponto de vista de uma observadora boba e romanticamente apaixonadapela moda como eu.
Pois é muito divertido ver os vendedores das boutiques e dos camelos de lá, oferecendo as peças dentro das tendências de moda baratos, sendo que desenhos iguais serão comprados por madames daqui uns dois meses e com o dobro do preço nos shoppings.

...ah, os shoppings...

Qualquer um que goste de observar as multidões e a sobrevivência nas cidades e que tenha um espírito flaneur dentro de si, junto a um olhar atento para a economia, faria poesia se pudesse ao caminhar pelas ruas movimentadas e cheias de roupas do Brás.Lá podemos ver do que a aclamada moda sobrevive, como ela faz a o dinheiro circular e ajuda a alimentar milhões de famílias.

Passeando pelo local e, se possível, entrando nas facções, nas serigrafias, nas inúmeras lojas de produção própria, sentiremos e talvez entenderemos aquilo que Barthes chamou de "vestuário real". No sentido da roupa em si, sem conotações.

Lá no Braisão, o vestido é vestido.
Pode ser cópia, pode ser meio brega, pode ser legal, pode ser barato, mas ele é tratado assim, como um simples vestido.
O mais importante não é se ele foi feito por fulano de tal ou se ele tem a etiqueta cara, ele deve ser vendido por que é o que o vai manter a empesa X e pagar os salários Y!!

E será vendido pra quem quiser, quem não quer comprar, nem interessa; outra pessoa vai querer, com certeza.

Sem frescuras e sem champagne, dessa maneira compra-se barato e ainda assim adquire-se a moda que estará nas ruas. Aquela moda que mesmo que a gente tente fugir por medo de ficar muito igual a todos, nos alcançará na próxima crise de identidade ou na próxima consumoterapia.

Aí vc que é o cliente, vc que é "livre", pode escolher o que preferir: pagar 100 ou 25 pilas no mini-vestido da estação.